Onde há repressão, há resistência! Assim aconteceu no Tarrafal, onde ao longo do tempo sempre os presos resistiram aos carcereiros.
Não era fácil ultrapassar as circunstâncias em que ali se encontravam – muitas vezes, de simples sobrevivência – e organizar essa resistência, ora individual, ora colectiva, mantendo a dignidade, mantendo os ideais de que comungavam e sabendo aproveitar todas as oportunidades para derrotar o inimigo.
A maioria dos presos deportados para o campo de concentração do Tarrafal constituiu-se em organizações prisionais clandestinas, de acordo com a respectiva vinculação ideológica, tal como em muitas outras prisões. A mais numerosa foi a Organização Comunista Prisional (OCP), seguida pela Organização Libertária Prisional (OLP), vindo mais tarde a criar-se também o Agrupamento dos Comunistas Afastados, na sequência de dissidências de alguns militantes com o Secretariado da OCP.
Conhecem-se ainda referências a outros presos que, não estando inseridos naquelas organizações, criaram relações (e talvez mesmo algumas estruturas) que os aproximavam e, de alguma forma, representavam. Será o caso, designadamente, de alguns republicanos e socialistas e o dos homens acusados de estarem ligados ao S.O.E. - Special Operations Executive, serviço secreto britânico, criado em 22 de julho de 1940.
As relações políticas entre essas diversas organizações nem sempre foram fáceis, exprimindo as divergências de fundo que as separavam – o que, frequentemente, se repercutia em aspectos da vida quotidiana, especialmente no que respeitava à disponibilização dos medicamentos que se encontravam à guarda da “Comuna” – levando também ao corte de relações entre presos das diferentes orientações políticas.
Importa ainda referir a existência de alguns “indiferentes” e de outros elementos a quem “os carcereiros deram uma mesquinha vida à parte dos restantes presos”, tornando-os informadores dos seus companheiros – eram os “rachados”, que viviam em barracão à parte, denominado “porta-aviões”.