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Armando Carlos Gibert

Armando Carlos Gibert

Armando Carlos Gibert nasceu em Lisboa a 1 de agosto de 1914, filho de Henri Ernest Gibert, herói francês da I Guerra Mundial, e de Maria José Montes Gibert. 
Com 24 anos licenciou-se em Ciências Matemáticas pela então Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, sendo contratado, no mesmo ano, como assistente extraordinário na Faculdade de Ciências de Lisboa. Bolseiro do Instituto de Alta Cultura, dedicou-se ao ensino da Física e à investigação, sob a orientação do Prof. Manuel Valadares. 
Casa em 17-09-1938 com Maria Laura Ferreira.
A partir de 1940, colabora em diversas revistas estrangeiras, evidenciando as investigações que estava a desenvolver, designdamentr no âmbito da física experimental.
Data do início dos anos 40 do século XX a sua ligação com Bento de Jesus Caraça e outros cientistas que desenvolvem trabalhos pioneiros no nosso país e que serão vítimas da depuração das universidades ordenada por Salazar em 1947. Assim, Armando Gibert e sua mulher Maria Laura Ferreira Gibert participarão também nos famosos passeios à Serra da Estrela organizados por Bento Caraça, partilhando esses acampamentos com, entre outros, Hugo e Pilar Ribeiro, Guida Lami, Remy Freire.
Em abril de 1942, participa na receção ao matemático francês Maurice Frechet (ver foto anexa)
Ainda em 1942, Gibert contacta Guido Beck, físico judeu austríaco exilado de guerra, que permaneceu em Portugal entre 1942 e 1943, de passagem para a Argentina, dando-lhe conta do seu interesse em se especializar nas técnicas de transmutação artificial por ação de partículas aceleradas. Guido Beck encaminhou-o para o Instituto de Física da Eidgenossische Technische Hochschule de Zurique, que frequentou com uma bolsa do Instituto de Alta Cultura, obtendo, em maio de 1946, sob a orientação do Prof. Paul Scherrer, o grau de Doutor em Física com a tese intitulada “Effet de la température sur la diffusion neutron-proton”, sendo-lhe atribuida a classificação de 20 valores.
Em 1945 fora entretanto distinguido com o Prémio de Física Artur Malheiros, da Academia das Ciências de Lisboa, pela realização do trabalho intitulado “Sobre um Liquefactor de Hidrogénio. Princípio e Funcionamento”.
Regressado da Suiça, apresentou-se na Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, onde o seu lugar de assistente de física se encontrava já preenchido. Apenas lhe restava obter a concessão da equivalência ao doutoramento pelas Universidades portuguesas – o que, obviamente, iria demorar, impedindo-o de prosseguir a sua atividade docente e as investigações
Que pretendia continuar a realizar para estudar as propriedades dos neutrões.
Essa forçada inatividade permitiu-lhe projetar a criação de uma Gazeta de Física, na esteira da Gazeta de Matemática, criada em janeiro de 1940 por António Monteiro, Bento Caraça, Hugo Ribeiro e Zaluar Nunes.
Assim, em outubro de 1946 saíu o primeiro número da Gazeta de Física, "revista dos estudantes de física e dos físicos e técnico-físicos portugueses" – assumindo Gibert a direção conjuntamente com Rómulo de Carvalho, Lídia Salgueiro e Jaime Xavier de Brito. Curiosamente, a Gazeta de Física é propriedade e edição da Gazeta de Matemática, Lda.
O percurso académico de Armando Gibert ia ser brevemente interrompido:
Com data de 14 de junho de 1947, Salazar decide mandar aplicar  a onze militares e a vinte e um investigadores e docentes universitários o famigerado Decreto-Lei n.º 25317, de 13 de Maio de 1935, que mandava “aposentar, reformar ou demitir os funcionários ou empregados, civis ou militares, que tenham revelado ou revelem espírito de oposição aos princípios fundamentais da Constituïção Política ou não dêem garantia de cooperar na realização dos fins superiores do Estado”, ou seja, quem não apoiasse a “situação”.

Desse modo, o Conselho de Ministros manda, entre outros perseguidos, que seja “imediatamente” rescindido o contrato com o assistente da Faculdade de Ciências de Lisboa “Licenciado” Armando Carlos Gibert, o que será executado pelo ministro da Educação Nacional Fernando Andrade Pires de Lima. 

Como se pode verificar, o requinte da perseguição vai ao ponto de o designar como “licenciado”, estando pendente a equiparação do seu doutoramento em Zurique - O seu doutoramento na Suiça, só foi reconhecido pelas Universidades Portuguesas em 1974!
Essa "purga", promovida por Salazar, varreu assim da investigação nacional, alguns dos seus mais notáveis elementos. Estranhamente, muitos deles tinhaam feito especializações e doutoramentos no estrangeiro a expensas do Governo de Salazar…
Pensar tinha-se tornado um ato demasiado perigoso, num país em que reinava a desconfiança política e que se pautava pela mediocridade. 
Afastado da Universidade, Armando Gibert é convidado para trabalhar na Sociedade Corticeira Robinson, em Portalegre, pelo seu administrador Eng. Cipriano Calleia que, nas mesmas circunstâncias, já convidara Manuel Valadares que, no entanto, optara por aceitar o convite de Irène Joliot-Curie para ir para Paris como «Chargé de recherches» do CNRS (Centre National de la Recherche Scientifique), o que se concretizou logo em novembro de 1947.
Armando Gibert permanecerá na Sociedade Corticeira Robinson desde outubro de 1947 até 1953, residindo numa das casas da Quinta Formosa, disponibilizada pela empresa. Mantém idas regulares a Lisboa, onde continua os trabalhos de investigação no Instituto Português de Oncologia, projetando as bases da Proteção contra Radiações, dedicando-se ao estudo da interação das radiações com o meio biológico, realizando trabalhos de investigação especialmente no domínio da Curieterapia ou Braquiterapia e regendo também um curso para radiologistas sobre a ação biológica das radiações.
De 1953 a 1960 trabalhou no Laboratório Nacional Engenharia Civil (LNEC), onde desenvolveu investigação aplicada à engenharia civil, designadamente no domínio de isótopos (areias marcadas com prata radioativa) para estudo do assoreamento do porto da Figueira da Foz.
Em 1957, Gibert escreveu na Seara Nova o artigo “Perspectivas do abastecimento eléctrico da Europa com reactores nucleares”, em que evidencia a sua aposta naquele modo de produção de energia, divulgando os seus conhecimentos aprofundados sobre o seu funcionamento e respetivas medidas de proteção.
No ano seguinte, fundou a Companhia Portuguesa de Indústrias Nucleares (CPIN), de cuja direção fez parte com Administrador Delegado tendo realizado importantes trabalhos técnico-económicos, relativos à implementação de centrais nucleares em Portugal.
Em dezembro de 1962, fundou o Fórum Atómico Português, filial do Forum Atómico Europeu (FORATOM), com sede em Bruxelas, tendo como principal objetivo estabelecer uma ponte entre a indústria e as instituições públicas, para a promoção e o uso da energia nuclear e das suas aplicações. Presidiu a essa organização até 1975, lançando o boletim informativo designado Energia Nuclear.
Em 1964, lança uma nova revista, intitulada Engenharia Nuclear.
A partir de 1965, colaborou com diversas firmas industriais e comerciais no campo técnico da mecânica de precisão, eletrónica e automática.
Em 1974, o seu doutoramento obtido na Suíça foi enfim equiparado ao grau de Doutor em Física Nuclear, pelas Universidades Portuguesas, sendo reintegrado na Universidade no ano seguinte. No ano letivo de 1975/6, vai reger a cadeira de História da Física na Faculdade de Ciências de Lisboa. Em 1979 foi aposentado, por motivos de saúde, da Faculdade de Ciências de Lisboa.
Apesar do seu precário estado de saúde manteve sempre uma lúcida atividade intelectual, elaborando designadamente um projeto de organização de um Vocabulário Técnico-Científico e Profissional, abrangendo desde o início três línguas (português, inglês e francês).
Faleceu em Lisboa a 6 de julho de 1985.

REFERÊNCIAS:

Texto original de Helena Pato e referências diversas:
Armando Gibert, um físico português em luta pela ciência, de M. Rocha Cabral (http://www.fisica-e-quimica-na-politecnica.org/03ARTIGOS/artigos/04_ROCHA_CABRAL_4.pdf)
Lídea Salgueiro, Gazeta de Física (https://www.spf.pt/magazines/GFIS/452/article/1576/pdf)
«Notas biográficas» recolhidas por Manuela Mendes, in Blogue António Aniceto Monteiro (http://antonioanicetomonteiro.blogspot.pt/…/armando-gibert)
Seara Nova, N.º 1331-1336, janeiro, fevereiro, março e abril de 1957, pp. 49-50 (http://ric.slhi.pt/Seara_Nova/visualizador/?id=09913.040.010&pag=5)