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Augusto Celestino da Costa

Augusto Pires Celestino da Costa

Augusto Pires Celestino da Costa nasceu em Lisboa a 16 de abril de 1884, filho de Pedro Celestino da Costa e de Maria Luísa Amélia Pires da Costa. 
Licenciou-se em Medicina em dezembro de 1905 na Escola Médico-Cirúrgica de Lisboa, com uma tese sobre as glândulas supra-renais. Dedicou a sua carreira de investigação à Histologia e Embriologia onde procurou sempre ampliar e aprofundar os seus conhecimentos realizando estágios em diversos laboratórios no país e também no estrangeiro.
Entre 1901 e 1906 realizou estágios de curta duração em laboratórios nacionais, nomeadamente no Laboratório de Histologia de Rilhafoles (desde 1911 Hospital Miguel Bombarda), sob a orientação do Prof. Marck Anahory Athias, no Laboratório de Histologia da Escola Médico-Cirúrgica de Lisboa e no Laboratório do Instituto Bacteriológico Câmara Pestana.
Entre 1906 e 1907 estagiou na Alemanha no Anatomish-biologisches Institut, onde foi discípulo do Prof. Oskar Hertwig, no Pathologisches Institut des Moabit-Krankenhaus, onde foi aluno do Prof. Benda e ainda no Hygienisches Institut, da Universidade de Berlim, sob a tutela do professor Rubner.
Desde 1907 foi sócio- fundador da Sociedade Portuguesa de Ciências Naturais e integrou a direção do Aquário Vasco da Gama, Estação de Biologia Marítima.
Em 1910, voltou à Escola Médico-Cirúrgica de Lisboa como «preparador de Histologia e Fisiologia» e pouco depois em 1911, para ocupar, através de concurso, o lugar de assistente na Faculdade de Medicina de Lisboa, entretanto criada na primeira Reforma do Ensino da República. No mesmo ano criou com Pedro Roberto Chaves, Luís Simões Raposo e Alfredo Magalhães Ramalho o Instituto de Histologia e Embriologia na Faculdade de Medicina de Lisboa, em que designadamente terá, como seu assistente “livre” Luís Dias Amado.
Entre 1916 e 1923 assume a direção desse estabelecimento científico, atividade que manterá a par da direção do Laboratório Central de Análises Clínicas dos Hospitais Civis de Lisboa (em 1919), de cujo Conselho Técnico também faz parte.
Com Marck Athias e Abel Salazar funda, entretanto, os «Arquivos Portugueses de Ciências Biológicas» e, mais tarde, em 1920, a Sociedade Portuguesa de Biologia.
Em 1917, estagia no Laboratorio de Investigaciones Biológicas de Madrid, com o Prof. Ramon y Cajal e, nos anos seguintes, no Instituto de Embriologia de Utrecht (Holanda) com o Prof. De Lange  e no Instituto de Anatomia e Embriologia com o Prof. Brachet, em Bruxelas.
Prosseguindo a sua carreira de investigação e de ensino, Celestino da Costa deu continuidade ao ideário republicano de criação de uma instituição estatal que coordenasse e financiasse as atividades científicas, desempenhando funções na Junta de Educação Nacional e, a partir de 1936, presidindo ao Instituto para a Alta Cultura.
Em 1933, percorre diversos países europeus para aprofundar o conhecimento do relacionamento entre serviços laboratoriais e serviços clínicos. No ano seguinte, trabalhou com o Prof. J.P. Hill no Laboratório de Histologia e Embriologia da University College de Londres.
Eleito secretário-geral da Sociedade Anatómica Portuguesa, criada em 1933, virá a ocupar a sua presidência (1945-1950).
Em 1942, é afastado da presidência do Instituto para a Alta Cultura e da direção da Faculdade de Medicina de Lisboa – embora permaneça na direção dos serviços de Análises Clínicas dos Hospitais Civis de Lisboa.
Foi igualmente presidente da direção da Sociedade das Ciências Médicas de Lisboa (1946-1949), presidente da Sociedade Portuguesa de Endocrinologia (1953), que fundara com Iriarte Peixoto, e presidente da Sociedade de Estudos Pedagógicos.
Com data de 14 de junho de 1947, Salazar decide mandar aplicar  a onze militares e a vinte e um investigadores e docentes universitários o famigerado Decreto-Lei n.º 25317, de 13 de Maio de 1935, que mandava “aposentar, reformar ou demitir os funcionários ou empregados, civis ou militares, que tenham revelado ou revelem espírito de oposição aos princípios fundamentais da Constituição Política ou não dêem garantia de cooperar na realização dos fins superiores do Estado”, ou seja, quem não apoiasse a “situação”.

Desse modo, o Conselho de Ministros manda, entre outros visados, considerar abrangido no artigo 1.º do decreto-lei n.º 25 317, de 13 de maio de 1935, devendo consequentemente ser aposentado (ou demitido, se não tiver direito a aposentação) o Dr. Augusto Pires Celestino da Costa, professor catedrático da Faculdade de Medicina de Lisboa.

Mais uma vez, Salazar recorre à repressão para afastar da universidade alguns dos seus melhores investigadores e docentes, tentando assim silenciar quantos estavam ativamente empenhados no processo de promoção da educação e da investigação científica.
Face aos protestos que o seu afastamento desencadeou, viria a ser reintegrado no mesmo ano, como professor catedrático na Faculdade de Medicina de Lisboa, onde se manteve até à sua jubilação a 16 de abril de 1954.
Augusto Pires Celestino da Costa foi membro de diversas associações internacionais de ciência, entre as quais a Associationdes Anatomistes (de França), o Colégio Anatómico Brasileiro e a Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência, a Zoological Society of London, a Académie Royale de Médecine de Belgique, de que fora eleito membro honorário correspondente estrangeiro em 1939, membro titular do Institut International d’Embryologie.
Distinguido com o grau de Doutor Honoris Causa, pelas faculdades de medicina de São Paulo, Bordéus, Toulouse e Montpellier, foi também, Conselheiro de Honra do Consejo Superior de Investigaciones Científicas de Espanha, agraciado com o grau de Comendador da Légion d’Honneur de França e membro correspondente estrangeiro da Académie Nationale de Médecine de Paris.
Celestino da Costa deixou uma extensa obra bibliográfica, técnica e científica – privilegiando a Histologia, a Embriologia, a Endocrinologia, a Biologia Celular, a Microscopia, mas também cultural e cívica, em prol da educação científica e da investigação nacional, dedicando também o seu interesse ao conhecimento da cidade de Lisboa, tendo presidido à Junta Diretiva do Grupo dos Amigos de Lisboa, em 1947.
Colaborador na Grande Enciclopédia Portuguesa e Brasileira, publicou, entretanto, obras de divulgação sobre «O corpo humano» na Biblioteca Cosmos, dirigida por Bento de Jesus Caraça, a par de livros técnicos especializados como o «Manual de Técnica Histológica» (1921), com Pedro Roberto Chaves, ou «Éléments d’embryologie» (1938).
Defensor empenhado na causa da educação pública, da ciência e da cultura, defendeu a modernização do ensino médico e a consolidação nas universidades portuguesas de práticas pedagógicas baseadas nos modernos métodos laboratoriais de experimentação e observação direta.
Faleceu a 27 de março de 1956 em Lisboa, no decurso da 43ª reunião da Association des Anatomistes,da qual era presidente.


REFERÊNCIAS:

Texto e fotografia a partir do Arquivo da Ciência e da Tecnologia (https://act.fct.pt/augusto-pires-celestino-da-costa/)
«Notas biográficas de Augusto Pires Celestino da Costa» (nd.); documento autógrafo policopiado. Arquivo de Ciência e Tecnologia, Espólio Augusto Pires Celestino da Costa. Código de referência: PT/FCT/ACC/002/28.