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Luís Ernani Dias Amado

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Data da primeira prisão

Luís Ernâni Dias Amado nasceu na freguesia de S. Paulo, em Lisboa, a 19 de janeiro de 1901, filho de Capitolina Monteiro e de Luís Dias Amado, e faleceu na mesma cidade no dia 22 de janeiro de 1981, com 80 anos. 
Aos 18 anos, alistou-se no Batalhão Académico, que participou na investida contra os monárquicos instalados em Monsanto. Ainda enquanto estudante foi um dos fundadores e dirigentes da Liga da Mocidade Republicana. 
Aluno e próximo colaborador de Augusto Celestino da Costa, foi seu assistente «livre» no Instituto de Histologia e Embriologia da Faculdade de Medicina, logo a partir de 1923, ascendendo ao posto de 2º assistente, entre 1925 e 1942. Em 1924, licenciou-se na Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa. Em 1942, apresenta-se a doutoramento com a dissertação «Complexos neuro-epiteliais e neuro-epitelióides». Entre 1943 e 1947, foi contratado como 1º assistente de Histologia e Embriologia da Faculdade de Medicina de Lisboa, cargo que acumulou com a carreira médica e de analista clínico, em laboratório privado. Em 1944, foi nomeado chefe de Serviços de Análises clínicas dos Hospitais Civis de Lisboa, na sequência de concurso. 
Foi ainda investigador voluntário no Instituto Português de Oncologia de Lisboa e participou no Congresso dos Anatomistas (1933) e no Congresso de Anatomia de Lisboa (1941).
Iniciado na loja maçónica Madrugada em 1928, adotou sucessivamente os nomes simbólicos de Garcia de Orta e de Zacuto Lusitano, sendo Venerável da sua loja de 1931 a 1935. 
Em 1931, Dias Amado aderiu à Aliança Republicano-Socialista. Envolveu-se na preparação da revolta de 26 de agosto de 1931, criando com Carlos Aboim Inglês, João Lopes Raimundo e Basílio Lopes Pereira um grupo revolucionário que deveria ajudar a derrubar a ditadura e a restaurar as liberdades fundamentais. Seria preso pela PVDE no ano seguinte e isolado na Cadeia do Aljube.
Em 1934, participou na Liga Contra a Guerra e o Fascismo. Foi um dos fundadores da União Socialista e empenhou-se ativamente no Movimento de Unidade Nacional Antifascista (MUNAF) e no Movimento de Unidade Democrática (MUD).
Entretanto, através da Lei n.º 1901, de 21 de maio de 1935 (ver abaixo), o regime fascista oficializara a repressão sobre as denominadas "associações secretas" e, em especial, sobre a Maçonaria, encerrando o Grémio Lusitano e confiscando os respetivos arquivos, transferidos para a PVDE. 

Mais adiante, pela Lei n.º 1950, de 18 de fevereiro de 1937 (ver abaixo), o governo afetou os bens arrolados do Grémio Lusitano à Legião Portuguesa.

Nestas condições, Dias Amado vai desempenhar um papel relevante na conservação institucional da maçonaria na clandestinidade, integrando o Conselho da Ordem do Grande Oriente Lusitano ilegalizado. Em 1956, será nomeado Grão-mestre adjunto, presidindo ao Conselho da Ordem, a partir de 1957, cargo que desempenhará até 1974. Neste ano, por renúncia do Grão-Mestre Luís Gonçalves Rebordão, sucedeu-lhe interinamente e, depois, por eleição em 1975, sendo reeleito três anos mais tarde, falecendo no final do segundo mandato.
Com data de 14 de junho de 1947, Salazar decide mandar aplicar  a onze militares e a vinte e um investigadores e docentes universitários o famigerado Decreto-Lei n.º 25317, de 13 de Maio de 1935, que mandava “aposentar, reformar ou demitir os funcionários ou empregados, civis ou militares, que tenham revelado ou revelem espírito de oposição aos princípios fundamentais da Constituïção Política ou não dêem garantia de cooperar na realização dos fins superiores do Estado”, ou seja, quem não apoiasse a “situação”.

Desse modo, o Conselho de Ministros manda, entre outros perseguidos, que seja “imediatamente” rescindido o contrato com o assistente da Faculdade de Medicina de Lisboa Dr. Luís Dias Amado, o que será executado pelo ministro da Educação Nacional Fernando Andrade Pires de Lima.

Mais uma vez, Salazar recorre à repressão para afastar da universidade alguns dos seus melhores investigadores e docentes, tentando assim calar os que ousavam pensar e agir como democratas.
A partir do afastamento da Universidade, dedicou-se ao seu laboratório particular de análises clínicas, publicando também diversos trabalhos da sua especialidade e obras de divulgação, designadamente na Biblioteca Cosmos, dirigida por Bento de Jesus Caraça.
Em 1948, apoiou a candidatura do general Norton de Matos à Presidência da República. Em julho de 1948, é novamente preso pela polícia política, no âmbito desta campanha oposicionista. Voltou a ser detido em 19 de agosto desse ano e levado para a Cadeia do Aljube, sendo posto em liberdade no mesmo dia.
No âmbito da acção cívica e política, Dias Amado integrou diversas comissões pró-democráticas e em favor de eleições livres, em 1949, por Norton de Matos e, em 1958, por Humberto Delgado. 
Em 1957, era membro do Movimento Nacional de Defesa da Paz e da Comissão Cívica Eleitoral e foi um dos signatários da exposição enviada ao Presidente da República, no dia 1 de outubro, explicando os motivos pelos quais a oposição não se apresentava a sufrágio. No ano seguinte, foi escolhido para a Comissão Nacional Pró-Candidatura de Cunha Leal à Presidência da República, candidatura que não foi levada adiante.
Em 1958 fez parte da comissão central dos serviços de candidatura do general Humberto Delgado à Presidência da República.
Em 1961, é um dos signatários do «Programa para a Democratização da República». Preso em 27-07-1961, recolhe, mais uma vez, à Cadeia do Aljube, sendo libertado quatro dias depois, mediante caução. Novamente preso em 04-12-1963, "por actividades contra a segurança do Estado", acusado de ligações às Juntas de Acção Patriótica, é de novo encaminhado para a Cadeia do Aljube. Aí permanece até 27-07-1964, em que baixa à Prisão Hospital S. João de Deus, tendo alta a 27 de outubro do mesmo ano, data em que foi julgado no Tribunal Plenário de Lisboa e absolvido.
Em 1960, reativada a Liga Portuguesa dos Direitos do Homem, assumiu a sua presidência. Em 1961, foi candidato nas eleições legislativas, nas listas da Oposição. Adere ao «Directório Democrato-Social». Em 1967, é eleito presidente da Sociedade Portuguesa de Medicina Laboratorial. Em 1969, é subscritor do manifesto da «Comissão Promotora de Voto» às eleições para a Assembleia Nacional de 26 de outubro daquele ano. 
Foi um dos fundadores da Acção Socialista Portuguesa, que esteve na origem, em 1973, ao Partido Socialista.
Acompanhou de perto as movimentações estudantis nos anos 60, prestando solidariedade e apoio a vários protagonistas dessas lutas.
Conferencista e articulista, deixou importante obra científica e colaborou em diversos periódicos como O Diabo, Globo, Técnica e também na Grande Enciclopédia Portuguesa e Brasileira.
Só em 1975 seria reintegrado (simbolicamente, pois já atingira a idade da reforma) na Faculdade de Medicina como professor catedrático.
Luís Ernani Dias Amado foi agraciado, a título póstumo, com o título de Grande Oficial da Ordem da Liberdade em 14 de abril de 1982.

REFERÊNCIAS:

http://www.parlamento.pt/.../Docu.../Candidatos_Oposicao.pdf
Perfil Biográfico dos Professores Catedráticos da Faculdade de Medicina de Lisboa
http://coleccoes digitalizadas.fm.ul.pt/repo/professores/dias_amado.pdf
http://www.fmsoares.pt/iniciativas/iniciativa?id=001147
http://arepublicano.blogspot.com/.../luis-ernani-dias...