Em Portugal, a libertação do campo de concentração do Tarrafal, ocorrida no dia 1.º de maio de 1974, apenas mereceu, no Diário de Lisboa de 3 de maio, na pág. 15 e sob o título "DL/Nacional", uma breve notícia baseada num telegrama da agência "Lusitânia" (ver imagem).
São também escassas as obras memorialísticas publicadas sobre a Fase II do campo de concentração do Tarrafal. Ainda assim, enumeramos aqui as conhecidas e sublinhamos que, após a libertação do campo, muitos dos presos participaram em iniciativas e entrevistas em que deram a conhecer o que ali se passara. Esperamos que se consigam recuperar alguns desses testemunhos.
Aceda, por ordem alfabética, aos documentos disponibilizados:
Memórias
Todos os poemas que constituem este caderno foram escritos no Campo de Concentração do Tarrafal, Ilha de Santiago, em Cabo Verde, nos anos de 1970 a 1973
Entrevistas com os escritores angolanos Uanhenga Xitu, António Jacinto, António Cardoso, Luandino Vieira
Preso no Tarrafal, "testemunha as suas vivências, umas positivas, outras amargas, traumas, expectativas, umas conseguidas, outras goradas, enfim, a dinâmica incessante das experiências da resistência que só os próprios conseguem descrever e transmitir.
O sentimento de pertença a um todo, a afinidade com os seus pares, as vicissitudes por que passaram, caracterizam a fibra de uma geração determinada a alcançar a meta nobre, a restituição da dignidade e honra ao Homem Angolano."
Ana Maria de Oliveira (do Prefácio)
Entrevistas
Estudos
Nota da Autora:
"Este não é um livro de fácil digestão. Fomos educados num país que nunca soube viver a História senão como História Santa. E com silêncios e desresponsabilização se têm tecido muitos dos nossos desencontros com a História. Mas, atenção. Não sou partidária de uma concepção judiciária da história, não pretendo julgar quem quer que seja. Tal como outros, também eu me oriento pelo lema inscrito por Eça e Ramalho no pórtico das «Farpas»: 'Guerra aos Factos. Paz aos Homens'".
Dalila Cabrita Mateus
"Sinopse: No fundo, o que pretendemos é desenterrar do fundo do lodo da história e trazer à superfície, todo o sistema legal que então vigorava e que fazia funcionara máquina repressiva, matéria que poderá ser melhor compreendida pelo jurista e que talvez só tenha um interesse meramente escatológico para um terceiro observador. Acrescentámos porém o relato de factos de que tivemos conhecimento directo, porque entendemos ser de interesse que para a memória desses acontecimentos eles fiquem devidamente registados.
Campos de concentração em Cabo Verde: as ilhas como espaços de deportação e de prisão no Estado Novo
Este é um livro de sofrimento e dor, de sangue e morte. Mas o ser humano é sempre capaz de vencer a dor e de sorrir para a vida. De modo que, aqui e ali, surgem episódios que acabam por desanuviar um ambiente demasiado pesado.
Dalila Cabrita Mateus
Estamos perante um notável trabalho de pesquisa e de recolha históricas, de extrema sensibilidade nas entrevistas e de aguda perspicácia na condução dos diálogos pela entrevistadora com os seus entrevistados.
"A Colónia Penal do Tarrafal, criada durante o Estado Novo na ilha de Santiago, em Cabo Verde, foi estreada em 1936 com centena e meia de prisioneiros políticos vindos da metrópole, que era preciso afastar, enfraquecer e usar como lição. Embora as condições em que ali viveram — esses e todos os outros que ali foram encarcerados — sejam conhecidas (quase sem água, privados de higiene, doentes e sujeitos a torturas várias), nada melhor do que ouvi-las da boca de quem as sofreu na pele ou assistiu de perto a esse sofrimento.